quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

The Debt

The Debt (2011), com a Helen Mirren, coloca uma questão controversa. Num dos momentos mais intensos e inquietantes do filme, o nazi Dieter Vogel acusa os judeus de cobardia e mesquinhez e diz que um povo desses merecia ser exterminado. Vogel apresenta alguns argumentos, designadamente a passividade dos prisioneiros dos campos de concentração e a falta de solidariedade entre eles. Porém, um olhar mais atento desmente esta ideia. Não só porque os prisioneiros dos campos estavam indefesos, isolados e fisicamente debilitados, mas também porque houve, na realidade, inúmeros actos de heroísmo e solidariedade: o detido que compartilhava a ração diminuta, o sapateiro que reparava o calçado em segredo ou o sacerdote que concedia ao crente as últimas consolações da fé. A simples sobrevivência a esses horrores indescritíveis era, só por si, uma rebelião.

sábado, 12 de junho de 2010

Cat on a Hot Tin Roof

Estou convencido que o verdadeiro assunto do filme Cat on a Hot Tin Roof (1958) é a disfunção eréctil do protagonista. Toda a história gira em redor da picha mole de Brick (Paul Newman) e só isso explica o seu comportamento errático. Senão, vejamos: a) Brick está severamente deprimido e evita todo o contacto sexual com Maggie (Elizabeth Taylor); b) Maggie chega mesmo a dizer-lhe 'you were such a wonderful lover'; c) Maggie consultou o ginecologista e este disse que ela é saudável e pode ter filhos; d) A sogra arguta afirma que todos os problemas conjugais começam na cama. Por tudo isto, a escaldante sequência final representa a vitória do protagonista sobre os seus problemas de ansiedade e incapacidade sexual.

quinta-feira, 13 de maio de 2010

A Foreign Affair

A diva Marlene Dietrich interpreta no filme A Foreign Affair (1948), de Billy Wilder, a personagem mais interessante da sua carreira. Erika von Schluetow é fascinante pela sua ambiguidade moral: ela rouba, engana, dissimula e mente com todos os dentes que tem, mas não se pode dizer que seja uma pessoa má ou que deva ser censurada pelos seus actos. A responsabilidade moral pressupõe sempre uma liberdade de escolha e, no caso de Schluetow, não restam muitas opções. Ela vive no meio de uma cidade completamente destruída pela guerra. Não há dinheiro, a fome prolifera e a propaganda oficial recomenda que as pessoas comam cardos, dálias e ervas daninhas para enganar a fome. Erst kommt das Fressen, dann die Moral. Quando a barriga está vazia, a única obrigação moral que sobra é fazer pela vida e não olhar a meios para fugir à miséria.

sábado, 8 de maio de 2010

Iron Man 2

A sequela de Iron Man frustrou todas as expectativas. O filme brilha em alguns momentos fugazes, mas as tiradas engraçadas, os excelentes efeitos especiais e a química Downey Jr. - Paltrow não são suficientes para salvar um argumento daqueles. Iron Man 2 (2010) está cheio de buracos, inconsistências e saídas fáceis. Um exemplo expressivo é a péssima sequência do interrogatório perante a comissão parlamentar: basta ao Tony Stark premir um botão e, num passe de mágica, todos os problemas se resolvem para o herói. Nada de engenho, nada de inteligência. Se restam dúvidas, comparemos esta porcaria com a memorável sequência do leilão em Intriga Internacional, de Alfred Hitchcock, ou com o duelo de artimanhas do primeiro Die Hard para ver as diferenças.

sábado, 3 de abril de 2010

Coisas que nunca falham nos filmes:

Animais (Pierrot Le Fou)

Ironia dramática (Irréversible, Das Leben der Anderen)

Beijo na boca (Spider-Man)

Travestis (Some Like it Hot)

Briga de gajas (All About Eve, Kill Bill)

Crianças (Bedhead)

Tarte atirada à cara (Travis Sing)

Conspiração (The Conversation)

sexta-feira, 26 de março de 2010

quarta-feira, 3 de março de 2010

Shutter Island

Imaginemos um tribunal do cinema. E imaginemos que o Martin Scorsese é inquirido pelo colectivo de juízes e tem de defender Shutter Island (2010). A tese do filme é absurda e inverosímil mas Scorsese saberia defendê-la com eficácia. O realizador começaria por citar o Mestre Alfred Hitchcock e diria que nenhuma obra de ficção é inteiramente verosímil. Além disso, diria que a grande virtude deste extraordinário filme está precisamente aí: em esticar a verosimilhança até ao limite do possível e conseguir, apesar de todas as incongruências, envolver e iludir o espectador. Um pouco como Joe Pesci fez com Ray Liotta naquela sequência sublime de Goodfellas, a melhor coisa que Scorsese filmou até hoje.

domingo, 28 de fevereiro de 2010

Le Chagrin et la Pitié

Le Chagrin et la Pitié (1969), de Marcel Ophüls, é um documentário polémico, talvez o mais controverso que alguma vez foi feito sobre a Segunda Guerra Mundial. O filme descreve o quotidiano de uma localidade da França durante a ocupação nazi e aborda algumas questões que muitos franceses gostariam de ver esquecidas: o colaboracionismo, o anti-semitismo e os julgamentos sumários após a libertação. Ophüls aborda tudo isto com grande objectividade e sem preconceitos de qualquer espécie. Alemães e franceses, resistentes e colaboracionistas, todos têm igual oportunidade de falar e expor as suas razões. Porém, a objectividade não implica a total ausência de espírito crítico. Bem pelo contrário, o realizador afirma várias vezes a sua repulsa pelos crimes do regime de Vichy - por exemplo, quando confronta o genro de Laval com a realidade dos números da deportação. É este juste milieu entre rigor histórico e juízo crítico, entre serenidade e indignação, que faz de Le Chagrin et la Pitié uma obra tão notável, inteligente e especial.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

The Oxford Murders

The Oxford Murders (2008), de Álex de la Iglesia, começa numa sala de aulas. É um começo apropriado, não só porque professores e cineastas têm muito em comum (o primeiro objectivo de ambas as profissões é cativar a atenção do público), mas também porque as qualidades pedagógicas de Álex de la Iglesia são bem conhecidas. Os seus filmes são claros, concisos e sedutores, tal como as boas aulas. Mas até os melhores mestres têm dias menos bons e a lição de The Oxford Murders não estava bem preparada. Falta ambição, estofo e profundidade ao filme, tudo é desgarrado e superficial. Isto é estranho, porque a pesquisa minuciosa e a atenção aos pormenores sempre foram os pontos fortes do cineasta espanhol (será ele um genuíno obsessivo compulsivo?). Mas se é verdade que as pessoas nunca mudam, vamos esperar que o realizador de Perdita Durango e El Día de la Bestia regresse à sua melhor forma.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Nine

Nine (2009), com o inteligente Daniel Day-Lewis, é um nado morto. A intenção original é prestar homenagem ao cinema italiano, mas o filme não tem nada de especial a dizer sobre o assunto. Mesmo que tivesse alguma coisa para dizer, não teria tido importância nenhuma porque já ninguém dá um traque pelos filmes italianos. Claro que nada disto seria grave, porque Nine é um musical e os musicais são notáveis pela sua plasticidade. Todos os excessos e devaneios são permitidos nos musicais, desde que a música seja boa. O problema é que, também musicalmente, o filme de Rob Marshall é uma grande merda.

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Paranormal Activity


Paranormal Activity (2009) agarra o público e não o larga mais. O filme lança o seu feitiço e deixa o espectador com uma sensação de inquietude que perdura muito para além da sessão de cinema. Não precisa para isso de grandes efeitos especiais ou novidades surpreendentes, basta-lhe um guião que segue à risca a regra fundamental da verosimilhança. A história é verosímil, ainda que o assunto seja uma possessão demoníaca: talvez nunca tenhamos encontrado um demónio, mas todos nos identificamos com o casal jovem, o ambiente doméstico e o medo do escuro. Por isso, o nosso envolvimento emocional é tão grande. Mais do que uma mera relação de simpatia, há uma verdadeira empatia com os protagonistas: identificamo-nos com eles, sofremos com eles e, no final, lamentamos todo o mal que lhes acontece.

domingo, 3 de janeiro de 2010

domingo, 27 de dezembro de 2009

Big Trouble in Little China

Há cineastas com uma intuição espantosa. Alguns deles têm uma notável capacidade de previsão e conseguem dizer as horas antes que o relógio as dê. Veja-se o caso de John Carpenter e o seu Big Trouble in Little China (1986). O filme foi um fiasco à data da sua estreia, porque o mundo ainda não estava preparado para ele. A síntese de elementos culturais do Ocidente e do Oriente era algo de completamente novo e terá parecido demasiado bizarra aos olhos dos espectadores da altura. Porém, o filme não era um retrato do seu tempo mas do tempo que estava para vir. Os anos foram generosos com o filme e deram-lhe razão. Hoje, numa época de cada vez maior interculturalidade, é uma das obras mais apreciadas do John Carpenter.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Psycho

Uma das sequências menos apreciadas de Psycho (1960), de Alfred Hitchcock, é a explicação do psiquiatra no final. Quase toda a gente concorda que a sequência é longa e fastidiosa e que o filme estaria melhor sem ela. Porém, nada poderia estar mais errado. A explicação é essencial para a compreensão da história e esclarece muitas coisas que tinham ficado pouco claras, sobretudo para quem vê o filme pela primeira vez. Mas há outra razão, mais importante ainda, para essa sequência. Ela surge estrategicamente colocada entre a captura de Norman Bates e o final na cela, o que permite que o espectador respire de alívio entre esses dois momentos assustadores. Isto demonstra todo o talento de manipulador de Hitchcock. O realizador, grande conhecedor dos princípios dramáticos, compreendeu rapidamente que a atenção do público não é constante e uniforme e que precisa de tempo para recuperar o fôlego.

domingo, 4 de outubro de 2009

Roman Polanski

O caso Roman Polanski é, em boa medida, uma questão de tempo. Não é a mesma coisa decidir um processo destes trinta dias ou trinta anos depois dos factos. O apuramento da verdade torna-se mais difícil, porque a frescura das provas já não é a mesma. E quanto mais a justiça demora, mais graves são os prejuízos para os envolvidos – incluindo a queixosa. Todos concordam, por isso, que o prolongamento deste processo é absurdo e injusto. Só o sistema judicial americano é que teima que não.

quarta-feira, 2 de setembro de 2009

Inglourious Basterds

O início de Inglourious Basterds (2009), de Quentin Tarantino, é uma delícia para os cinéfilos. Toda a sequência da casa do lavrador evoca o famoso exemplo da bomba debaixo da mesa que Alfred Hitchcock usava para distinguir surpresa e suspense: haveria suspense se o espectador soubesse de antemão que uma bomba estava prestes a rebentar debaixo da mesa; e haveria surpresa se a bomba rebentasse subitamente, sem que o espectador suspeitasse da sua existência. Mas Tarantino não se limita a imitar o exemplo de Hitchcock e aproveita o melhor dos dois mundos: surpreende o espectador quando revela a bomba (neste caso, a família de judeus) que se esconde por debaixo dos protagonistas; e, a partir desse momento, o suspense cresce até ao insustentável. Mais uma vez, Tarantino não deixa os seus dotes de manipulador por mãos alheias.

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

In Cold Blood

In Cold Blood (1966) é um romance genuinamente americano. Não só porque as suas personagens e o seu assunto são americanos, mas também porque apenas um escritor americano poderia criar um livro assim. A escrita de Truman Capote é objectiva e cristalina. Tal como a generalidade dos seus compatriotas, Capote vai directo ao assunto e descreve a realidade como ela é, sem adornos nem juízos de valor. Nada de meias tintas, nada de floreados. É esta limpidez de linguagem que alguns europeus mais presunçosos não compreendem e classificam de simplismo ou superficialidade.

quinta-feira, 30 de julho de 2009

Infamous

Uma das sequências mais notáveis do filme Infamous (2006) é a da festa de Natal em casa dos Deweys. O protagonista Truman Capote aceita o convite com prazer mas a festa começa por ser embaraçosa. Os intervenientes mal se conhecem, têm pouco em comum e não há muito para dizer. Pouco a pouco, a personalidade magnética de Capote começa a dar sinais de vida. Os Deweys deixam-se fascinar cada vez mais pelo paleio do escritor e até o adolescente da casa se junta à conversa dos adultos. Toda esta sequência retrata maravilhosamente a qualidade mais marcante de Capote: o seu carisma. Foi esse mesmo carisma - e não o dinheiro, a chantagem ou a violência - que lhe permitiu, mais tarde, conquistar a confiança do duo de assassinos e aceder ao manancial de pormenores descritos no romance In Cold Blood.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ansiedade crónica

Se alguém souber de uma solução para esta porcaria da ansiedade crónica, que diga qualquer coisa. Obrigado.

sexta-feira, 3 de julho de 2009

Stephen Fry

A autobiografia Moab is My Washpot é uma excelente oportunidade para descobrir a escrita de Stephen Fry. É uma escrita envolvente e sedutora, que denota um prazer enorme pela experimentação da linguagem. E a propósito de linguagem, há duas peculiaridades que saltam logo à vista do leitor. A primeira é o gosto pela enumeração. O texto de Fry está cheio de inventários que servem para sublinhar e enfatizar os seus pontos de vista. A segunda peculiaridade é a apetência pelos faits divers. Fry adora divagar e fugir ao cerne da questão, mas sabe fazê-lo com talento. Longe de aborrecer o leitor, todos esses detalhes aparentemente irrelevantes tornam a sua leitura mais ligeira e aprazível - um pouco como o viajante que, antes de chegar ao destino, se detém junto dos pormenores encantadores que encontra ao longo do caminho.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Zack and Miri Make a Porno

O filme Zack and Miri Make a Porno (2008) é uma desilusão. O assunto é a produção de um filme pornográfico caseiro, mas a maior obscenidade de todas é a escrita do argumentista e realizador Kevin Smith. O senhor escreve com a subtileza de um bulldozer. Os seus diálogos são aborrecidos e banalíssimos; não basta encher um guião de palavrões para se fazer um filme espirituoso. Mas o Smith não é apenas gratuito, também é preguiçoso: não fez o trabalho de casa e, manifestamente, pouco ou nada sabe sobre a indústria porno e as pessoas que nela trabalham – ou sobre pessoas, pura e simplesmente.

sexta-feira, 26 de junho de 2009

PEF

As melhores manhãs radiofónicas do mundo são as do Posto Emissor do Funchal (PEF).

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Adolf Hitler

O nazismo também teve coisas boas. Os progressos promovidos pelo Terceiro Reich na ciência e tecnologia revolucionaram o mundo e ainda hoje são sentidos. A tecnologia usada nos V-1 e V-2 acabaria por colocar o homem na lua. No domínio social, uma grande percentagem de alemães vivia bem. Adolf Hitler restaurou a economia falida em menos de cinco anos, fundou escolas profissionalizantes para os que não possuíam qualificações e acabou com o desemprego. O Partido de Hitler também proporcionou às massas ocupações que até então eram privilégio de uma elite restrita: desporto, artes e teatro. O gozo de férias através do movimento Kraft durch Freude inspirou iniciativas semelhantes que, ainda hoje, beneficiam milhões de pessoas.

terça-feira, 2 de junho de 2009

The Strangers

O filme The Strangers (2008), com a linda Liv Tyler, está a passar despercebido nas salas de cinema. Há muita gente que diz que não gosta, porque supostamente não tem história e é apenas o registo cinematográfico de um massacre. Isto até nem é grande novidade, já que quase todos os filmes de terror seguem normalmente o mesmo destino. Porém, esta reacção é completamente injustificada e demonstra algum desconhecimento do que é o género de terror. Tal como as tragédias gregas, os filmes de terror repisam sempre as mesmas histórias e personagens, porque são puros exercícios de estilo. Um filme destes não tem que se preocupar com grandes originalidades ou enredos complexos, mas apenas em usar a gramática cinematográfica da forma mais eficaz possível. Saber usar montagem, mise en scène, efeitos especiais para nos assustar de morte, aí é que está o mérito de The Strangers e todos os bons filmes de terror.

segunda-feira, 13 de abril de 2009

Berlin Tegel

No aeroporto de Tegel, em Berlim, um casal gay beija-se sem o risco de levar com uma pedra. É bonito.

terça-feira, 31 de março de 2009

Gran Torino

Quem não chorar quando o Clint Eastwood empresta o carro ao Thao e à Yum Yum, é porque tem uma pedra em vez de coração.

segunda-feira, 23 de março de 2009

Aliens

As sequelas cinematográficas são uma faca de dois gumes. Elas podem parecer um investimento seguro aos olhos dos produtores, mas, porque as expectativas do público estão mais elevadas, raramente conseguem igualar os filmes originais e acabam por ser uma desilusão. Uma excepção notável foi Aliens (1986), de James Cameron. O filme não só igualou como terá até suplantado o primeiro Alien de Ridley Scott. Cameron conseguiu juntar o melhor de dois mundos: foi arrojado e original ao combinar os cinemas de acção e ficção científica; mas essa mesma dissolução de géneros permitiu-lhe também ser fiel ao espírito do filme original - também ele uma mistura insólita de géneros - e conquistar a aceitação imediata dos fãs.

domingo, 25 de janeiro de 2009

quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Blindness

O filme Blindness (2008), realizado por Fernando Meirelles e baseado no livro do José Saramago, até começou muito bem. A cegueira branca é uma metáfora sumarenta e constitui um desafio aliciante para qualquer cineasta. Tudo parecia prometer um espectáculo cinematográfico grandioso, mas o resultado final é um pouco decepcionante. O realizador quis começar a construir a casa pelo telhado e preocupou-se mais em vender uma ideologia do que contar uma boa história. As inverosimilhanças e incongruências de Blindness são demasiado flagrantes (por exemplo, nunca se explicou muito bem o encarceramento dos cegos e as condições miseráveis em que era feito) para que o espectador inteligente seja persuadido a reflectir sobre o que quer que seja.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Easy Jet

Voar entre Lisboa e o Funchal ficou mais fácil. A Easy Jet passou a assegurar a ligação aérea e rompeu com um monopólio de décadas da Tap. Os madeirenses têm excelentes razões para festejar. É verdade que a empresa inglesa não presenteia os seus passageiros com uma refeição ligeira (i.e. uma carcaça e um sumo concentrado) mas em tudo o resto é melhor que a congénere portuguesa: preços, pessoal de bordo, assistência em terra. O que torna, porém, a Easy Jet não só mais eficiente mas também mais decente e honesta que a Tap é a pontualidade dos voos. A pontualidade não é apenas um gesto de cortesia mas um verdadeiro dever ético e moral. Os protestantes, por exemplo, acreditam que todos os nossos minutos serão contabilizados perante Deus no Dia do Juízo Final. Palpita-me que, quando chegar a hora, o Pinto Amaral e seus colaboradores terão muitas explicações a dar.

domingo, 7 de dezembro de 2008

Escape from L.A.

O filme Escape from L.A. (1996) deve ser visto várias vezes. Ver só uma vez não chega, porque não conseguimos absorver todos os pormenores desta obra extraordinária de John Carpenter. Um desses pormenores expressivos é a presença de crianças no corredor dos deportados. É expressivo porque revela a demência a que chegou a América de Carpenter. Num Estado de Direito decente, as crianças são absolutamente inimputáveis e, mesmo que pratiquem factos que sejam objectivamente crimes, apenas poderão estar sujeitas a medidas tutelares de protecção, assistência ou educação. Ou, pior ainda, talvez aquelas crianças do futuro não tenham praticado crime algum e estejam a pagar pelos supostos erros dos pais, como sucedeu com os meninos judeus na Alemanha nazi. É caso para dizer, citando o protagonista do filme, que «quanto mais as coisas mudam, mais elas ficam na mesma».

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

quarta-feira, 12 de novembro de 2008

Quantum of Solace

Há um momento de Quantum of Solace (2008) que mais se assemelha a um acto de contrição do próprio filme. Após ter sido surpreendida por um agente duplo, M questiona a sua capacidade para escolher colaboradores. O mesmo problema – má escolha dos colaboradores – está na origem do fiasco do filme. A culpa cabe ao produtor, já que é ele quem coordena, supervisiona e dirige a escolha do pessoal e, no caso deste novo Bond, as escolhas estavam todas erradas: Mathieu Amalric foi um vilão desastrado, o montador chacinou as sequências de acção e o argumentista não escreveu uma fala espirituosa que fosse nem percebe o que quer que seja de política internacional.

quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Barack Obama

Os advogados conhecem bem a importância do silêncio. Os melhores causídicos não são os que proferem alegações longas e eloquentes, mas os que sabem calar a boca na altura certa. Barack Obama, como brilhante advogado que é, fez um excelente uso do silêncio ao longo da sua campanha. Nunca respondeu na mesma moeda aos ataques pessoais, aos insultos racistas e às insinuações porcas (v.g. a suposta amizade com terroristas) e manteve-se superior aos adversários. O segredo do seu sucesso está sobretudo aí, mais do que nos discursos – aliás emocionantes e inspirados.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Hugh Laurie

Hugh Laurie estreou-se na literatura com The Gun Seller. O romance é uma novidade na carreira de Laurie mas não é uma ruptura. Os fãs reconhecerão no livro o humor burlesco de A Bit of Fry & Laurie, o cinismo de Black Adder e a riqueza de pormenores de House. Porém, a sua qualidade mais marcante está no profundo conhecimento dos princípios dramáticos: Laurie é exímio na criação e gestão do suspense e, seja em cima de um palco ou nas páginas de um livro, sabe agarrar a atenção do público.

sexta-feira, 31 de outubro de 2008

quinta-feira, 30 de outubro de 2008

sexta-feira, 24 de outubro de 2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

George W. Bush

O Presidente George W. Bush é um dos protagonistas destas eleições. Toda a gente fala nele, mas não pelas melhores razões. Quem fala pior são os republicanos, a começar pelo McCain, cuja frase mais emblemática foi «I'm not President Bush». Curiosamente, o Bush também pensa mal dele próprio: quase nunca mostra a sua presidencial efígie na campanha e, quando mostra, é apenas para demarcar o candidato do seu partido e dizer que ele é um «reformista». O senhor sabe que se tornou pior que uma doença contagiosa e assemelha-se cada vez mais ao protagonista idealizado por Alfred Hitchcock que trazia o azar e a morte a todas as pessoas com quem lidava.

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

domingo, 28 de setembro de 2008

Die Fälscher

O dilema moral descrito em Die Fälscher (2007) é fascinante. O filme conta a história de dois prisioneiros do campo de concentração de Sachsenhausen, cada qual com ideias muito próprias sobre a sua situação. Adolf Burger é mais idealista e recusa qualquer forma de cooperação com os nazis, mesmo que isso custe a sua vida e a dos seus companheiros. Já Salomon Sorowitsch é mais pragmático e prefere dialogar com os seus carrascos: «Prefiro morrer gaseado amanhã do que hoje por razão nenhuma». À primeira vista, Sorowitsch parece um oportunista sem escrúpulos, mas as coisas são, na verdade, mais complicadas. Ainda que as suas acções possam parecer egoístas, elas correspondem a um dever sagrado que é o da auto-preservação. E foram os seus compromissos com os nazis que permitiram salvar muitos dos companheiros presos. Apesar de não ser recompensado no final, Sorowitsch é o verdadeiro herói do filme.

quarta-feira, 10 de setembro de 2008

Mamma Mia!

O filme Mamma Mia! (2008) estava destinado a ser um êxito. A música dos Abba é a matéria-prima perfeita para um espectáculo destes, porque as suas canções celebram o melhor da vida e os musicais são precisamente o género mais sorridente e optimista. Esta natureza ligeira dos musicais foi lindamente descrita pela protagonista do filme Dancer in the Dark, de Lars von Trier: «I used to dream that I was in a musical, because in a musical nothing dreadful ever happens». Nada de terrível acontece, tudo termina em bem e sabemos que, por maiores que sejam as reviravoltas, as personagens de Mamma Mia! sairão sempre incólumes. Mesmo os momentos mais comoventes e intensos do filme – Meryl Streep interpreta brilhantemente The winner takes it all, os dois protagonistas cantam S.O.S. – não deixam de ter essa leveza. São lágrimas felizes.